“Somos uma empresa de perfumaria de nicho, com uma longa tradição” revela Erwin Creed, a 7ª geração desta família dedicada às fragrâncias mais exclusivas.

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Erwin Creed

A Creed tem fama de usar a maior percentagem de ingredientes naturais da perfumaria francesa. Numa época em que cada vez mais pequenos players disputam o mercado às gigantes multinacionais como a L’Oréal, a Firmenich, a Puig ou a Estée Lauder, Erwin Creed nem quer ouvir falar de comparações: “Hoje em dia existem demasiadas empresas de perfumes de nicho. Acham que se faz muito dinheiro, mas não. Fazer um bom perfumes como nós sai muito caro. Não tenho nada contra a concorrência – e admiro realmente algumas dessas marcas – mas na sua maioria não sabem fazer perfumes como nós, não controlam todo processo produtivo”.

Erwin pode dize-lo porque está sentado numa” looonga” história de família. A Creed nasceu há mais de 250 anos, ‘De père en fils depuis 1760’ é a frase que pode ler-se em todas as caixas de perfumes. James Henry Creed era luveiro do rei George III e, como na época as luvas aromatizadas eram uma necessidade para combater os maus odores das ruas, criou para o seu cliente mais importante uma fragrância especial, a “Creed Royal English Leather”. Henry Creed II, nascido em 1824, assumiu os comandos do negócio em meados do século XIX e é, até hoje, considerado um dos mestres perfumistas mais inovadores de sempre. Foi responsável pela internacionalização do nome Creed, que entretanto começou a ser requisitado por todas as grandes cortes da Europa. Diz-se, aliás, que terá sido um convite da imperatriz Eugénia de França, mulher de Napoleão III, que levou Creed a mudar-se para Paris em 1854.

Ao longo desses anos os perfumes nem sempre foram o principal negócio da casa Creed. Nascidos luveiros, os acessórios sempre estiveram presentes e em boa parte do século passado a família dedicava-se sobretudo, como reconhece Erwin, “aos acessórios, como botões de punho, e à alfaiataria por medida. Nas fragrâncias fazíamos sobretudo amostras, um pequeno toque final para os nossos clientes importantes.” Tudo voltou a mudar durante as décadas de 70 e 80, já com o seu pai Oliver ao leme da empresa. A Creed volta então a apontar baterias para a perfumaria e Oliver Cred revelou-se um perfumista de exceção, um verdadeiro perfeccionista. Notavelmente, a sua primeira criação, em 1985, “Green Irish Tweed”, é ainda hoje um dos mais perfumes mais vendidos da casa. Dez anos depois lança “Millesime Imperial”, que celebra 140 anos ao serviço das casas imperiais da Europa, uma combinação luxuosa de notas marinhas e cítricas de todo o mundo. Quando “Aventus” sai em 2010 torna-se imediatamente no maior sucesso comercial da Creed, de tal forma que ganhou pouco depois uma versão feminina, que também se tornou num best seller.

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Oliver Cred

Erwin Creed já esteve mais ligado ao desenvolvimento dos perfumes. Hoje dedica-se mais ao lado “empresarial” do negócio. “Tenho de fazer isto agora, enquanto sou novo, porque implica viajar constantemente pelo mundo. Mas já prometi ao meu pai que, daqui por dois ou três anos, volto para a criação de perfumes.

“Hoje não conseguimos cumprir com cerca de 30% das encomendas. Estamos a tentar desenvolver esse processo porque naturalmente que queremos crescer, mas não demasiado. Quando isso acontece a mentalidade altera-se e começamos a pensar em cortar nos custos e já não fazemos o que queremos”. A frase é sintomática, porque como explica “Os ingredientes são fundamentais. Nunca negociamos o preço dos ingredientes naturais porque queremos uma determinada qualidade. E a quem nos consegue fornecer pagamos o que pedem. É como se fossemos um chef e nos pedissem para fazer uma boa refeição com ingredientes congelados. Os bons chefs, como os bons perfumistas, conseguem mas não ao ponto de fazer algo excecional”.

Essa é outra crítica que Erwin faz à perfumaria atual: “A maioria dos perfumes preocupa-se muito com as notas de topo. São muito boas porque é isso que as pessoas cheiram nas lojas, gostam e compram. Mas ao fim de cinco minutos não é a mesma coisa. Nós preocupamo-nos com as notas de fundo. Um perfume deve ser bom passadas umas horas, não quando o colocamos”.

Os perfumes Creed são naturalmente caros (a partir de 170 euros por um frasco 75 ml) mas, diz Erwin, “são muito razoáveis quando comparados com a nossa concorrência.” Essa exclusividade estende-se à rede de distribuição, hoje com oito lojas próprias e alguns parceiros como o Harrods, Bergdorf Goodman, Neiman Marcus e a Boutique dos Relógios Plus, em Portugal o único espaço onde pode encontrar os perfumes Creed.

Fonte : O Jornal Economico

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